23 de jan. de 2014

Doença.

Se você não leu os textos Lúcia! e Lúcia! (parte 2), por favor leia-os para compreender o texto a seguir.

Caro amigo...


Nem sei mais se você realmente é meu amigo, pois nunca responde minhas cartas. Mal sei se você as lê. Mal sei se elas chegam até você. Às vezes me sinto como um idiota que escreve cartas para ninguém.
Mas o assunto não é este. Tenho um grande fato para contar!
Ontem à tarde o telefone tocou (este não é o grande fato, acalme-se), e foi minha irmã quem atendeu. 
- Só um minuto - ela disse -, vou chamá-lo. 
Beatriz entrou no meu quarto com o telefone na mão e me entregou, de má vontade. Pois tudo que ela faz é de má vontade. Adolescentes!
- Alô? - eu disse, obviamente. 
- Oi, Dudu - disse uma voz doce do outro lado.
Eu fiquei mudo por um tempo, pois ninguém além da minha mãe e da Lúcia me chamava assim. E aquela voz singela e delicada com certeza não era minha mãe.
- Lúcia? - eu questionei, ansioso.
- Você adivinhou! - ela disse, rindo.
- Como estão as coisas na nova cidade?
- Bem, eu ainda não me mudei. Aliás, não vou mais me mudar.
Por um minuto, me senti em um daqueles filmes em que o personagem fica mudo e sem ter o que dizer enquanto passam flash backs na sua mente. Eu lembrei de como chorei quando cheguei em casa após aquela festa de aniversário (quando me despedi dela com um abraço) e de como eu estava deprimido nos últimos dias por saber que eu nunca mais veria Lúcia Pereira na minha escola. E agora isto! Eu fiquei em choque de felicidade ao ouvir a notícia, e acabei deixando a conversa em um silêncio absoluto. 
- Você está feliz por isto? - ela perguntou, quebrando a tensão.
- Eu estou - eu disse -, muito feliz!
Depois nos despedimos e foi só. Eu larguei o telefone e dei pulos de alegria na minha cama, abracei meus ursos de pelúcia e gritei "viva" na janela. 
Mas acho que sou um homem muito maduro e sábio quando se fala de paixões, e eu sei que elas nunca dão certo. Eu já falei sobre isso com você, lembra? Embora a Lúcia pareça uma menina legal e apaixonável, é uma menina, e meninas sempre são encrencas na certa! Portanto, acho que vou tentar trocar minha fissura pela Lúcia por vídeo-game e salgadinho. 
Além do mais, se meus amigos soubessem que eu gosto de uma menina diriam que eu peguei a doença das meninas (pode ser transmissível ao falar com uma menina, ser tocado por uma menina ou gostar de uma menina). E eu não gosto de ser julgado como um doente da doença das meninas. É como se fosse a pior das pestes entre os humanos que têm pinto. No caso, os meninos. Portanto, se você tem pinto, mantenha-se longe do alcance das meninas. 
Ps.: Se você for uma menina, perdoe-me, não sou quem dito as regras.

Abraços do Eduardo!