16 de jan. de 2014

Lúcia! (parte 2)

Caro amigo...


Decidi nomear a carta deste jeito para que você a organize corretamente quando for guardá-la. Minha mãe leu em uma revista que a forma como as pessoas organizam suas coisas retratam sua personalidade! Não que isso seja importante, só acho que ela vai ficar feliz se souber que eu a citei em uma das minhas cartas para você.
Então, como disse na carta anterior, hoje à tarde foi a festa de aniversário do Carlos, e também a última vez que vi a Lúcia antes dela ir embora. Como eu já disse, odeio festas, mas odeio ainda mais festas infantis. Você deve estar pensando "mas você é uma criança" e nossa, como você é esperto! Eu sei que sou uma criança, o que não me torna um fã do Ben 10 ou das músicas do Carrossel. Sou uma criança diferente, e você já deve ter notado. Pois bem, festas infantis me estressam porque geralmente têm cama elástica, e as crianças soam como porcos pulando toda hora. É um ciclo infinito de pular por cinco minutos, ir para a fila, pular mais cinco minutos, ir para a fila, tomar refrigerante, pular mais cinco minutos, e assim sucessivamente. O que por um lado é bom, porque deixa a mesa de doces fora da visão de todo mundo e eu posso atacar quando bem entender. Mas por outro lado é péssimo, porque eu tenho asma, e não posso pular com eles porque posso ter um ataque asmático. Isso é importante, eu já tinha contado? Enfim, você deve estar ansioso para saber como foi com a Lúcia. E eu também estou ansioso para contar, o problema é que mal consigo escrever de tão emocionante.
Eu estava na mesa dos doces, beliscando um brigadeiro ali, um casadinho aqui, e de repente ela apareceu!
- Qual você mais gosta? - ela perguntou, escolhendo um dos doces para ela.
Eu confesso que gaguejei, mas não porque fiquei nervoso ou porque eu estou apaixonado, é que eu estava com doce na boca. Sério. 
- Eu gosto d-de briga-ga-deiro.
Então nos viramos um de frente para o outro, ocasionalmente, depois de escolhermos nossos doces. Eu sabia que aquele era o momento para o tchau carinhoso, mas eu não conseguia soltar um só som que fosse! Não que eu estivesse apaixonado, simplesmente pelo fato de que... eu estava de boca cheia. 
- Você está triste por que eu vou embora? - ela perguntou, me desafiando com aqueles olhos verdes.
Não sei se contei, mas ela é dois anos mais velha que eu. Como você não é muito esperto, eu faço as contas pra você: ela tem doze. 
- Triste por que você vai embora? - eu repeti a pergunta como os idiotas fazem quando não sabem o que responder.
- É. - ela confirmou.
- Estou bem... - e então eu parei. Respirei. Eu acho que estava com vontade de chorar aquela hora. 
Ela notou minha aflição e me deu um abraço. O melhor abraço de todo planeta. Não que ela seja uma paixão ou coisa parecida, só fiquei um pouco surpreso. Ok? Nada de paixões por aqui. 
- Vou sentir saudades, Dudu. - ela disse e saiu para pular na cama elástica.
E então eu fiquei pelo resto da festa sentado em uma cadeira, com um copo plástico de refrigerante, como se ainda sentisse o abraço dela me tocando. Mas isto não é um sinal de paixão, é que eu tinha comido demais, e então fiquei daquele jeito.
Eu cheguei em casa em silêncio, e acho que a mamãe percebeu tudo, porque ela me perguntou como tinha sido com a Lúcia. Eu fingi que não sabia de qual Lúcia ela estava falando e desviei o assunto falando de como os doces estavam bons. Subi para o meu quarto, tranquei a porta e - acho que você já é meu amigo o suficiente para saber - chorei abraçado no meu urso de pelúcia porque não queria que Lúcia fosse embora. Agora que consegui parar de chorar, decidi lhe escrever, porque prometi que escreveria.
Qual a moral de tudo isso, meu amigo? Eu não sei. Talvez eu realmente esteja apaixonado, e como já disse em outra carta, vai dar merda como sempre dá! E escrevo palavrão mesmo, minha mãe não pode censurar minhas cartas!

Abraços do Eduardo.

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